Com mais de 3,5 milhões de casos de dengue reportados nos três primeiros meses do ano, os países das Américas estão diante da possibilidade de enfrentar o mais grave surto da doença em sua história, alertou a Organização Pan-americana da Saúde (Opas) nesta quinta-feira (28).
Segundo a Opas, Brasil, Argentina e Paraguai são responsáveis por mais de 90% dos casos e 80% das mortes por dengue na região. O Brasil lidera as estatísticas com 2.966.339 casos e 758 mortes, seguido pelo Paraguai, com 191.923 casos e 50 mortes, e pela Argentina, com 134.202 casos e 96 mortes.
Em uma coletiva de imprensa, o diretor-geral da Opas, Jarbas Barbosa, expressou sua preocupação com a situação no continente. Ele destacou que até mesmo países onde os surtos de dengue costumam ocorrer no segundo semestre, como Barbados, Costa Rica e Guatemala, já estão relatando um aumento nos casos da doença. Além disso, Porto Rico declarou estado de emergência devido à dengue no início da semana.
Jarbas ressaltou que em 2024 os quatro sorotipos da dengue estão circulando nas Américas, e quando há mais de um sorotipo em circulação, o risco de casos graves aumenta consideravelmente. Até o momento, pelo menos 21 países da região já informaram sobre a circulação de múltiplos sorotipos, incluindo o Brasil.
O diretor-geral da Opas também apontou as causas ambientais como um fator fundamental para o atual cenário epidemiológico. Ele mencionou altas temperaturas, ondas de calor, secas intensas e inundações como elementos que contribuem para o aumento da circulação do mosquito vetor, além de levar a população a armazenar água de forma inadequada.
Questionado sobre a possibilidade de declarar emergência em saúde pública de interesse internacional, semelhante ao que ocorreu com o vírus Zika em 2016, Jarbas explicou que são cenários bastante diferentes. Em 2016, a emergência foi declarada devido à forte relação entre o vírus Zika e casos de microcefalia em bebês nascidos de mães infectadas.
“A OMS agiu corretamente ao declarar a emergência até que pudéssemos entender o que estava acontecendo”, afirmou Jarbas. “No caso da dengue, o aumento na transmissão é a única novidade, não houve mudança na expressão clínica da doença ou nos sintomas”, acrescentou.
“A dengue representa um desafio significativo. Durante uma epidemia, a circulação do vírus é tão intensa que quase todas as pessoas entram em contato com o sorotipo circulante. Após isso, passamos por um período de três ou quatro anos até que outro surto ocorra. Parece que a doença desaparece e, então, reaparece”, concluiu Jarbas, enfatizando a necessidade de programas permanentes nas Américas para a identificação precoce de novos surtos.