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Educação Bilíngue e Intercultural nas Escolas Estaduais Indígenas de Goiás

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Na rotina do Colégio Estadual Indígena Maurehi, situado na Aldeia Buridina, em Aruanã, mais uma segunda-feira se desenrola. Em uma das salas, os alunos mergulham em atividades de Matemática, aproveitando os recursos dos computadores do laboratório móvel. Enquanto isso, em outro ambiente, estudantes se dedicam a desenhar os grafismos tradicionais do povo Iny-Karajá.

Esta cena cotidiana espelha a vida na instituição, que acolhe 117 alunos da rede estadual, a maioria de ascendência indígena. Ali, crianças, jovens e adultos imergem em uma educação bilíngue e intercultural, que vai além dos currículos convencionais do ensino fundamental (do 6º ao 9º ano) e da Educação de Jovens e Adultos (EJA).

O currículo diferenciado está em conformidade com o estipulado na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), que preconiza a oferta de educação escolar bilíngue e intercultural às comunidades indígenas. O objetivo é resgatar suas memórias e identidades étnicas, ao mesmo tempo em que proporciona acesso aos conhecimentos científicos e técnicos da sociedade nacional.

“Nosso trabalho visa preservar a cultura de nosso povo, mantendo viva nossa tradição oral e língua Iny”, explica Valdirene Leão Gomes Karajá, diretora do Colégio Estadual Indígena Maurehi.

Ela destaca que, na rotina escolar, os alunos têm acesso aos conteúdos regulares em Língua Portuguesa, bem como aos saberes culturais dos Karajás, ministrados em Iny Rybé (língua Karajá).

“Os alunos têm a oportunidade de aprender sua língua materna, o Iny, e se dedicam a atividades artesanais. Essa é a marca registrada da nossa escola. Além disso, temos uma estrutura que valoriza nossa cultura”, acrescenta a professora Áurea Rúbia, responsável por disciplinas como Matemática e pela eletiva de Narrativa e Mitos da Cultura Iny.

Para o cacique da Aldeia Buridina, Raul Hawakati, a instituição escolar surgiu como um meio de fortalecer a cultura indígena e tem sido fundamental para garantir o acesso dos indígenas à educação, inclusive ao ensino superior.

“O Colégio Maurehi tem sido uma porta de entrada para a faculdade para muitos jovens indígenas, sem nenhum custo. Através dele, nossa comunidade e o colégio indígena têm se destacado. Este projeto tem proporcionado oportunidades educacionais para muitos indígenas”, destaca.

Ele ressalta que o acesso à educação tem permitido que os próprios indígenas compartilhem suas histórias e culturas.

“Uma caneta pode ser pequena, mas é uma arma poderosa. Podemos ganhar muitas batalhas com ela. Não precisamos recorrer à violência. A educação é a chave para nosso fortalecimento”, afirma.

Quanto à oferta de educação bilíngue e intercultural, o cacique enfatiza que tanto a língua portuguesa quanto a língua materna indígena são fundamentais para a preservação da cultura dos povos indígenas.

“Ambas são igualmente importantes. É fundamental que ambas caminhem lado a lado para fortalecer nossa identidade”, conclui.

ESCOLAS ESTADUAIS INDÍGENAS

Além do Colégio Estadual Indígena Maurehi, a rede estadual de Educação de Goiás conta com outras duas escolas indígenas: Escola Estadual Indígena Avá-Canoeiro, em Minaçu; e Escola Estadual Indígena Cacique José Borges, em Rubiataba. Juntas, elas atendem 167 estudantes de origem indígena em todo o Estado.

A rede estadual também oferece educação para alunos indígenas das etnias Xavante/A’uwe, Zoró, Kalapalo, Iny/Karajá, Javaé e Tapuia, que estudam em regiões diferentes de suas origens. Ao todo, são 205 estudantes indígenas em situação de itinerância em Goiás.

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